CIDADES PERDIDAS
"De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.”
Marco Polo - O maior Viajante de Todos os Tempos
Com os avanços tecnológicos, os arqueólogos estão cada vez mais desvendando os mistérios de cidades, algumas consideradas como inexistentes meras obras de ficção, outras perdidas na esteira do tempo e julgadas por muitos como irrecuperáveis.
Novas descobertas, principalmente no novo e promissor campo da arqueologia submarina, estão se juntando às antigas descobertas dos primórdios da arqueologia. Cidades quase que intactas surgiram da areia, das cinzas, das florestas e do fundo dos mares, trazendo à tona antigos mistérios e incorporando à História fatos que até então pertenciam ao campo da suposição.
Conheça a seguir alguns casos, do passado e do presente, de cidades que já foram consideradas invisíveis e que emergiram como testemunhas de um passado grandioso.
E a Bíblia tinha razão
Em 1980, arqueólogos submarinos encontraram na costa oriental do Mar Mediterrâneo, a 30 metros de profundidade, restos de uma grandiosa construção dos tempos de Jesus Cristo. Tratava-se, como puderam comprovar, das ruínas do porto de Cesaréia, cidade romana construída pelo terrível rei Herodes que a erigiu em 22 a.C., na Palestina, em homenagem ao imperador romano. Concebida como uma cidade-fortaleza, Cesaréia localizava-se em posição estratégica e seu porto, revelam as ruínas, foi uma impressionante obra da engenharia romana. Muralhas avançavam mar adentro e existiam imensos portões que permitiam a entrada de navios e, quando fechados, davam guarida a mais de 100 embarcações. Todo este complexo resistiria à força das ondas por 300 anos, sendo então levado para o fundo do mar.
Aos poucos foram sendo retirados do mar verdadeiros tesouros da época de Cristo, como vasos, jóias, mosaicos e embarcações. Mas a descoberta mais significativa foi a de um bloco de pedra onde havia uma placa que dizia que Pôncios Pilatos era a autoridade romana local e Tibério César o imperador, confirmando o texto bíblico de Lucas, no Novo Testamento, que situava Jesus Cristo dentro de uma cronologia histórica. Este fato pode parecer aparentemente banal, mas para os arqueólogos e historiadores é de suma importância já que são bem raros os documentos históricos que citam Pôncios Pilatos, o qual para alguns poderia até mesmo não ter existido.
Anteriormente, narrativas bíblicas do Velho Testamento, também puderam ser comprovadas, quando os arqueólogos descobriram na Mesopotâmia, atual Iraque, as ruínas dos palácios dos reis da Assíria e das fantásticas cidades de Nínive, Babilônia e Ur.
Ao se descobrir o Palácio do Rei Sargão dava-se consistência histórica a relatos contidos nas Profecias de Isaias, fatos que para muitos eram apenas meras e desacreditadas profecias.
Ruínas de um templo babilônico foram encontradas e lá estavam estátuas e alto relevo de deuses, entre os quais o mitológico "Dragão da Babilônia", confirmando outro relato bíblico, o Livro de Daniel, onde se relata que este jovem hebreu foi levado à corte do rei de Babilônia para ser educado. Daniel negou-se a adorar os deuses babilônicos, inclusive o mitológico dragão, permanecendo fiel ao seu Deus e sendo por isso jogado ao covil dos leões onde sua fé o fez sobreviver, mostrando a supremacia de seu Deus único.
Muitas outras descobertas feito pelos arqueólogos na Mesopotâmia colocaram essa região no seu devido lugar na história, comprovando que ali viveram civilizações adiantadas tão ou mais antigas que a egípcia e, novamente, atestando relatos bíblicos.
Foi encontrada a base da mitológica Torre de Babel, nome que os hebreus davam a Babilônia, o que permitiu visualizar quão impressionante deve ter sido aquela construção, descrita no capítulo 11 do Gênesis. A torre, construída em forma de pirâmide escalonada, foi considerada o símbolo da presunção humana, sendo local de comércio e visitação de povos os mais diferenciados e que falavam as mais diferentes línguas.
Mas as escavações levaram os arqueólogos a descobrir restos de uma civilização ainda mais antiga cuja origem se desconhece: os Sumérios, da bíblica Ur, terra do patriarca Abrão.
Uma nova descoberta então ocorreria: geólogos comprovariam que toda a região da Mesopotâmia sofrera uma tremenda e catastrófica enchente, similar ao Dilúvio, descrito na Bíblia.
Em achados na escrita cuneiforme podia-se ler: "e abriram-se as janelas do céu. Caiu copiosa chuva sobre a terra... então veio a enchente, e depois da enchente a realeza desceu outra vez do céu".
Mais ainda: foram achadas tábuas que contavam a epopéia do herói sumeriano Gilgamés em que a narrativa do Dilúvio aparece com clareza, descrita não como uma lenda, mas sim como um fato histórico, deixando explícito que o considerado mais remoto antepassado da humanidade, o sumeriano Ut-napisti apresentava incríveis coincidências com o Noé bíblico, já que ele também, após grandes castigos infligidos pelos deuses à raça humana, salvou-se juntamente com sua família.
E os Poetas Tinham Razão
Em abril de 2001, escavações feitas por arqueólogos submarinos no fundo do mar da Baia de Abukir no Mar Mediterrâneo, no Egito, revelaram a apenas 8 metros de profundidade, a descoberta de estátuas colossais, barcos, vasos, moedas de ouro e bronze, jóias e uma fenomenal estela com inscrições em hieróglifos, tudo indicando se tratar de ruínas de uma antiga cidade. Os hieróglifos continham um decreto do faraó Nectanebos I datado de 380 a.C. que permitia concluir que se tratava da cidade chamada Honë.
Os arqueólogos compararam o decreto do faraó com outro monólito descoberto 100 anos antes no Delta do Nilo, 70 quilômetros ao Sul, na localidade de Naukratis, único assentamento grego em solo egípcio, e descobriram que se tratava do mesmo decreto, o que reforçava que aquela cidade sob as águas era, de fato, o Porto de Honë.
Mas seria essa Honë a mesma cidade que o poeta Homero chamava de Herakleion, em sua Ilíada, dizendo que lá se refugiaram os amantes da Guerra de Tróia, Helena e Páris? Seria também a mesma cidade que o historiador Heródoto dizia há 2500 anos ser o local do monumental Templo de Hércules? Poderia os arqueólogos confiar nos relatos literários?
Uma grande descoberta deu, no entanto, a certeza que os arqueólogos buscavam: ruínas de muros com 150m de comprimento, uma suntuosa entrada guardada por três enormes estátuas de granito, deuses de bronze, objetos de uso religioso, tudo levando a crer que se tratava de um templo faraônico dedicado ao deus egípcio Amon e, num sincretismo com a cultura grega, também venerado pelos gregos que reverenciavam Hércules, filho de Zeus, deus helênico que se equivalia a Amon. Como tudo leva a crer que se trata realmente do Templo de Hércules, Honë e Herakleion seriam, sem dúvida, a mesma cidade.
Quando o alemão Schliemann descobriu em 1873, as ruínas da antiga cidade de Tróia, baseando-se para localizá-la nas minuciosas descrições que o poeta Homero fizera, em sua Ilíada, da guerra entre gregos e troianos, dois mitos emergiram do campo ficcional para entrar definitivamente na História.
Com sua descoberta Schliemann provou que Tróia realmente existiu, sendo importante rota comercial da antigüidade, ocupando posição estratégica entre o Mar Negro e o Mediterrâneo, acumulando riquezas e poder que provocaram a inveja dos seus vizinhos. Provou ainda que Homero, tido por muitos como uma personagem de ficção, realmente foi um extraordinário cronista de seu tempo, dado o preciosismo e a fartura de detalhes de sua descrição da guerra entre gregos e troianos, hoje tidos pelos arqueólogos como absolutamente corretos.
Micenas, antiga cidade grega do Peloponeso também foi descoberta com base nos relatos do próprio Homero e nas descrições do geógrafo grego Pausânias, que percorreu a região em 170 d.C., e nas citações encontradas nas tragédias gregas de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.
Inúmeros são os achados, mas nenhum se iguala a descoberta de Pompéia, em 1748, perto de Nápoles, no Sul da Itália. Quando em agosto de 79 d.C. o Vesúvio sepultou Pompéia, com cerca de 25 mil habitantes e Herculano, bem menor, sob uma camada de 7 metros de cinza, não se imaginava que o mesmo cataclismo responsável pela sua destruição, seria também o responsável pela sua preservação. Por quase 17 séculos a cidade ficou submersa, mas manteve-se praticamente intacta, tornando-se talvez o mais importante vestígio da vida humana na Antigüidade e o mais visitado museu a céu aberto do mundo.
Existiam poucos documentos que falavam sobre Pompéia, com exceção dos relatos feitos pelo naturalista romano Plínio, o Velho, que também morreu soterrado. Quando estes documentos foram achados, foram fundamentais para orientar os arqueólogos da metade do século XVIII que encontraram a cidade. Mais de 1500 edifícios já foram descobertos e muitas dúvidas e mistérios da vida romana puderam ser esclarecidos, mas o grande legado da preservação de Pompéia, para a humanidade, talvez tenham sido as obras de arte ali encontradas. Técnicas do uso de cores e de perspectiva de ambientes e figurantes surpreenderam os pesquisadores que só viriam a encontrar tal refinamento 1000 anos após, com o Renascimento.
O que Falta Descobrir
Algumas cidades perdidas dos Maias foram encontradas bem conservadas, cobertas pelas florestas, o que permitiu um bom conhecimento sobre essa civilização, mas um mistério ainda intriga os pesquisadores. O que aconteceu com os Maias? Para onde eles foram? O mesmo se pode dizer dos Incas. Quando Machu Pichu foi descoberta, escondida nas montanhas, ela também sugeria que seus habitantes a tinham abandonado às pressas. O mesmo mistério permanece. Para onde foram seus habitantes?
Por outro lado, um fato continua a intrigar os arqueólogos.
Todas as antigas civilizações afloraram às margens de rios, na China, Índia, Mesopotâmia, Egito e beirando o mar, no caso da civilização grega. Por que na América isto não teria ocorrido?
Ou ainda haveria uma cidade perdida às margens do Rio Amazonas, onde até pirâmides já foram encontradas?
Será que a mitológica cidade de El Dorado teria existido? E quanto à cidade das lendárias mulheres guerreiras, as amazonas? Existiriam no coração do Brasil resquícios de uma antiga civilização?
Muitos arqueólogos estão cada vez mais preocupados com a preservação dos sítios arqueológicos, ameaçados pelo chamado progresso humano. Em Pompéia, o vandalismo dos turistas já é uma ameaça real e no Iraque um projeto de irrigação vai cobrir 200 quilômetros quadrados de área ao longo do Rio Tigre, deixando sob as águas mais de 60 sítios arqueológicos, alguns deles ainda inexplorados.
A antiga capital religiosa dos reis assírios, Ashur, de 3500 anos, não ficará submersa, mas as águas chegarão às ruínas dos portões e dos palácios da cidade. Em 2006, quando o lago estiver completo, só restará aos pesquisadores os recursos da arqueologia submarina para saber mais sobre os antigos habitantes da Mesopotâmia, os assírios, os babilônios e os sumérios.
Mas o maior desafio dos arqueólogos talvez seja encontrar as ruínas da Atlântida, comprovando então a descrição feita por Platão em sua obra Crítias. Nunca uma cidade foi tão procurada e ao mesmo tempo alvo de inúmeras hipóteses ainda não atestadas.
Muitas cidades estão sendo descobertas em todos os lugares do mundo e cada vez mais as cidades perdidas estão deixando de ter um conceito meramente geográfico para se tornar um importante símbolo dos mistérios da existência humana.